Arquivo mensais:agosto 2014

Proofreading, or the eyes of a stranger and my hard work

Since I started working as a translator, this is a sensitive issue for me. Something that can take me off-balance. It is impossible for me to keep calm when I get that email from some client’s reviewers asking for my considerations over his considerations about my work.

These are a few things that go through my head in that moment: oh-no-i-lost-the-client-forever-will-never-recover-i-knew-i-should-not-work-with-a-migraine-my-career-is-over.

Finally, when I am able to breathe, I open the email, check the notes and see that there are only small preferential changes, nothing critical, and nobody wants to kill me for using ‘soft’ when he preferred ‘smooth’. I calm down and then the important thing I would like to discuss in this post arises (and you go on and wonder why I wrote 2 paragraphs before what I really want to discuss…)

Anyway, what I wanted to say is that this is actually good. After you dismiss the initial terror, it is very good to have a client’s feedback, to know what the client likes and wants, which words he would rather use, build a glossary together, and in the odd event that I am actually wrong (fiction, of course), I can even learn from that. Or at least think twice before accepting a job while with a headache.

But it is not easy. Us, human beings in general, have a not so healthy relationship with criticism. We struggle to deal in a straight and objective way with criticism, and understand it as something specific and isolated from us personally, or as an attack to our work in general (or our life, or our appearance, or whatever is being assessed at that moment).

In fact, I have seen some forum threads in translator’s sites discussing this sole theme extensively, and, most of the time, disallowing our client’s reviewers. Translators are offended because they are “forced” to use words they do not believe is the best for the context. Translators are angry with the new phrase construction of their sentences. Translator are indignant with a second opinion.

Although I understand that, in some cases, the in country reviewers are not linguists themselves and might bring a few issues to a text, we need to learn to separate things. Nothing is sadder than to spend hours searching for that perfect figure of speech to match the one in the source text and have the reviewer say your translation is wrong because it has not “the same wording”, when that was exactly your goal! Yes, there are cases that need to be questioned, that need to be reverted, but 90% of the fixes, are only preferential and perfectly acceptable ones. Maybe they are more adequate to the internal lingo of your client, and they are certainly not a personal offense to you.

In fact we, translators, or we, human beings, just need to work on our humbleness. We should listen to a suggestion, a critic, know how to place that in context, question and “defend” when necessary, of course, but without dismissing a whole professional category as ‘people that do not know what they are doing’.

Yes, I do have pride in my work and yes, it does bother me when some review does not improve anything and changes the work that was so hard to accomplish in a satisfying way (to me). However, I do understand and accept that this step is necessary and a part of the job.

Let us all be more Zen, is what I recommend to my fellow translators.

by: Cássia Afini

A revisão ou os olhos do outro sobre meu árduo trabalho

Desde que comecei a trabalhar como tradutora, este foi um tema que sempre me deu “borboletas no estômago ao contrário”, se é que isso existe. É impossível não ficar um pouco nervosa quando você recebe aquele e-mail do revisor do cliente pedindo suas considerações sobre as revisões que ele fez.

Algumas coisas que passam pela minha cabeça em 2 segundos: fiz bobagem, perdi o cliente pra sempre, meu deus esse é aquele trabalho que fiz com enxaqueca, agora minha carreira acabou. Quando consigo respirar, abrir os anexos e ver que são algumas simples correções preferenciais do cliente, nada crítico e ninguém está querendo me eliminar da face da terra porque eu traduzi soft como suave e ele preferia macio, me acalmo e aí vem o que queria discutir neste texto (e você pode se perguntar, se era isso que queria, porque escreveu dois parágrafos antes de começar?)

De qualquer forma, o que eu queria dizer é que isso é muito bom. Descartado o terror inicial, é muito bom receber esse feedback, saber o que o cliente gosta, que palavras ele prefere e até mesmo eventualmente aprender com algum erro seu, ou pensar duas vezes antes de aceitar um trabalho durante uma crise de enxaqueca/ou-outro-fator-debilitante.

Mas não é fácil. De modo geral, o ser humano tem uma relação nada saudável com as críticas. Temos uma dificuldade muito grande em lidar com a crítica como algo objetivo, relativo a algo específico, e não como algo pessoal que ataca todo o nosso trabalho (ou vida, ou aparência, ou seja lá o que for que é criticado naquele momento).

Na verdade, tenho visto algumas linhas de discussão específicas em fóruns de tradutores, exatamente sobre este tema e, inclusive, desautorizando o trabalho dos revisores de seus clientes. Tradutores indignados porque são “obrigados” a usar uma palavra que não acreditam ser a mais adequada àquele contexto. Tradutores revoltados com a nova organização que foi dada à sua frase. Tradutores inconformados com a opinião alheia.

E apesar de eu entender que, em alguns casos, os revisores “in country” dos clientes tem seus próprios vícios de linguagem que querem inserir em nosso trabalho e que isso não é bom, precisamos saber separar as coisas. Nada mais triste, por exemplo, do que ficar quebrando a cabeça para estar evitando o uso do gerúndio do texto original na tradução e o revisor considerar que aquele trecho está errado exatamente porque você não “traduziu o gerúndio”! Sim, existem casos que precisam ser questionados e revertidos, mas em 90% dos casos, são simplesmente ajustes preferenciais que atendem à linguagem interna/desejada de uma empresa (seu cliente, aquele que tem sempre razão) e não ofendem ninguém.

Na verdade, nós tradutores, e nós, seres humanos em geral, precisamos exercitar a humildade. A capacidade de escutar uma sugestão, uma crítica, saber colocar aquilo em contexto, questionar e “se defender” quando necessário, claro, mas sem categorizar toda uma classe profissional como incompetentes.

Sim, eu me orgulho do meu trabalho e sim, eu fico chateada com algumas revisões que não acrescentam nada e alteram meu trabalho que custou tanto de meu tempo e esforço. Mas eu entendo e aceito que são necessárias e fazem parte do mercado.

Vamos todos ser mais Zen, é minha recomendação aos colegas tradutores.

by: Cássia Afini

A tradução automática e o apocalipse

Como tradutora, estou acostumada a ouvir/ler que a profissão que escolhi, no momento em que escolhi, está morrendo. Muitos acreditam que a tradução automática, vai acabar com a necessidade de uma pessoa que leia e traduza um texto. Tudo será lançado em um software de tradução e sairá magicamente do outro lado, de forma perfeitamente compreensível, e passaremos (nós tradutores) a ser desnecessários.

Eu não acredito nisto, nem tenho medo de me tornar irrelevante. Basta lembrar o quão dinâmico e orgânico é um idioma, as muitas nuances de nosso raciocínio que dificilmente um algoritmo cobrirá 100%.

É claro que eu entendo e reconheço que as “machine translations” têm o seu valor para situações emergenciais, necessidades pontuais de compreensão no cotidiano, mas o resultado nunca é aceitável (ou mesmo compreensível) para um texto profissional, uma apresentação de uma empresa na internet, para um anúncio com a mensagem correta e que trará os resultados que a empresa espera.

Por exemplo, tenho certeza que nenhum hotel atrairá clientes com a frase “O custo total sala é a soma dos custos mais baixos noturnas por quarto para o número de noites solicitadas.”. Essa é uma frase em inglês, retirada de um site de um grande hotel e traduzida no Google Translate para português. Deu pra entender? Não, né?

Existem várias máquinas de tradução. Estou citando o Google Translate porque eles mesmos admitem que estão preocupados que, o que já não é bom, pode piorar. Há um efeito de deterioração da qualidade da tradução automática inserido na própria lógica do sistema.

O assunto foi discutido pelo Diretor de Pesquisa do Google, Peter Norvig, na conferência Nasa Innovative Advanced Concepts em Stanford, em fevereiro de 2014. Norvig admitiu que a existência de sites que usam o Google Translate para traduzir todo seu conteúdo automaticamente, tem perpetuado e aprofundado os erros de tradução que ele mesmo (Google Translate) gerou inicialmente, porque os servidores do Google reconhecem estes sites como multilíngues e os indexam em seus servidores para alimentar a sua máquina de tradução, com as traduções de baixa qualidade que ele mesmo gerou.

Claro que, nesta admissão do problema, vem a informação de que estão trabalhando na criação de filtros para minimizar estes efeitos.

De qualquer forma, a questão é que nenhuma empresa que quer ser levada a sério deve usar um serviço de tradução automática. O resultado nunca terá uma aparência final adequada, e alguém que não fala o idioma para o qual a tradução está sendo feita, nunca saberá. Mas o cliente que ele quer atingir saberá.

Algumas pessoas defendem o uso da tradução automática com a revisão posterior por um tradutor. E aí começam vários outros questionamentos. A expectativa de um cliente que contrata um tradutor para “revisar um texto já traduzido” é que isto seja muito mais barato. A verdade para o tradutor, por outro lado, é que o trabalho para revisar uma “machine translation” é o mesmo, as vezes até maior, do que traduzir do zero. A necessidade de pesquisa, revisão e edição é as vezes tão grande quanto, e, muitas vezes, o resultado de uma revisão dessas não é satisfatório, não dá para você, como tradutor, aquele prazer de ver um texto “com sua cara”, bem feito, do jeito que você gostaria de entregar.

O mercado de tradução passa sim, por uma profunda transformação e um grande crescimento de demanda. As traduções automáticas, assim como os softwares CAT (computer aided translation) têm um grande papel neste novo mercado, mas esse papel não é eliminar o tradutor. Tenho certeza que tradutor e máquina trabalharão juntos por anos e anos a fio, e os apocalípticos da tradução de plantão que me perdoem, mas não acredito neles. Meu mundo não está acabando.

By: Cássia Afini