A invisibilidade do tradutor

Quando eu me decidi pela transição de carreira, a primeira coisa que busquei foi um curso específico na área. Muitas pessoas consideram que “saber inglês” (ou qualquer segundo idioma) é suficiente para entrar na área de tradução, e as coisas não são tão simples assim. São tantas coisas envolvidas na geração de uma versão de qualidade em seu idioma. Vemos tantos vícios de linguagem, erros perpetuados em traduções literais, contexto errado, realidade cultural atravessada. Traduzir é uma arte.

Eu considero, na verdade, que o mais importante no processo é saber o seu idioma nativo. Isso mesmo – pasmem – para ser tradutor, você tem que ser excelente no seu idioma mais do que em outro idioma qualquer. É óbvio que você tem que conhecer um segundo idioma (no mínimo), mas esse realmente não é o foco e nem é onde os maiores esforços devem estar, e sim, no seu próprio idioma. E é por isso que o tradutor é invisível. Ele precisa criar um texto que soe como se tivesse sido escrito em seu idioma, e não traduzido.

No mercado literário isso é muito claro. Muitos livros que você lê foram escritos em outro idioma, e você nem lembra disso. Sabe quem é o autor do livro, mas nem sempre presta atenção em quem foi que permitiu que você esteja lendo o livro: o tradutor.

Ou, entrando na área em que eu trabalho mais, você reserva sua passagem aérea, sem imaginar que o site foi escrito em outro idioma e chega a você em português porque passou por um tradutor, você escolhe seu hotel na Europa em um site em português, sem pensar em como aquele site de um hotel em Paris foi escrito em seu idioma (ou seja, não foi….).

A verdade é que a tradução está presente em nosso cotidiano muito mais do que imaginamos ou paramos para pensar. Eu costumo me ver como uma ponte. Eu sou uma ponte entre o fabricante de um produto e seu consumidor brasileiro, sou uma ponte entre o hotel na Inglaterra e o feliz viajante brasileiro a caminho, uma ponte entre o operário brasileiro da multinacional e o programa de treinamento concebido nos Estados Unidos.

Eu gosto de ser essa ponte.