O antigo tema da IA no setor de tradução

Tenho pensado em como, há anos, os tradutores têm sido ameaçados pela tecnologia de tradução automática (escrevi um pouco sobre isso aqui), mas de certa forma estávamos isolados como uma profissão “invisível” e muitas pessoas ainda acham normal a Inteligência Artificial poder substituir o ofício da tradução.

A tendência da IA no contexto da tradução nunca foi chocante para o público, como vemos agora a reação em relação ao universo criativo, com cada vez mais arte, livros e imagens sendo gerados por IA e autores, atores e artistas em geral se manifestando.

Como de forma geral, o ofício do tradutor não é considerado artístico, as diversas máquinas de tradução disponíveis em sites, aplicativos e afins são celebradas pelas mesmas pessoas que agora estão chocadas com o fato de imagens, livros e vídeos estarem sendo “criados” por IA.

O trabalho dos tradutores humanos é a fonte de toda a tradução automática disponível, sem que nenhum de nós tenha consentido que nosso trabalho fosse usado para alimentar um banco de dados. Isso aconteceu e ninguém notou (ou se importou, na verdade) como estão notando agora em relação a outros campos.

De alguma forma, isso nunca me preocupou profissionalmente. No início, era uma verdadeira piada, os resultados da tradução automática às vezes eram engraçados e tratados como tal. Vimos a qualidade da tradução automática melhorar ao longo dos anos, é claro. Posso entender que ela pode ser um recurso importante, em situações de emergência em que o idioma é uma barreira, por exemplo, mas nunca a vi como algo capaz de substituir a necessidade de um tradutor humano. Um livro 100% traduzido por máquina não será legível. Um site ou material de marketing de uma empresa 100% traduzido por máquina não terá uma aparência profissional.

Há nuances e dinâmicas do idioma que uma máquina nunca “aprenderá”, pois o idioma é orgânico, muda com o tempo e tudo depende do contexto, da situação e da lógica que não são binárias e não podem ser tratadas com eficiência por um banco de dados. Em um texto que foi traduzido por IA, podemos ver erros de tradução hilários, se não trágicos, que podem causar problemas sérios para uma empresa ou reduzir o prazer da leitura.

Além disso, há um problema adicional. As traduções incorretas e os falsos cognatos, quando usados em um documento, livro ou site, serão devolvidos aos bancos de dados de tradução, e o resultado é que, quanto mais você usar puramente IA para tradução, pior será o seu banco de dados. Eventualmente, ele pode se tornar inútil.

Recentemente, autores ao redor do mundo se preocuparam com a descoberta de bancos de dados encontrados na Internet que são alimentados por suas obras, e acho que há algumas semelhanças com o processo das traduções alimentadas pelas obras dos tradutores. A criação de uma história não é mecânica, livros não podem ser simplesmente copiados e colados, pois isso seria plágio, e a soma aleatória de diferentes enredos, estilos de escrita e humor não criarão um bom resultado, portanto, nunca haverá uma verdadeira “competição” com a arte real.

O resultado do recente alvoroço sobre IA é que me sinto menos sozinha e um pouco mais compreendida, embora ainda veja pessoas desprezando o trabalho de um tradutor e acreditando que ele é algo que a IA pode substituir completamente, pelo menos o tópico está sendo discutido sobre até onde podemos ir com a IA e tenho certeza de que isso também beneficiará os tradutores. Estamos em um momento importante com toda essa visibilidade do problema.

The old subject of AI in the translation business

The old subject of AI in the translation business

I have been thinking about how, for years now, translators have been threatened by the machine translation technology (I wrote a little about it before here), but we were isolated as an “invisible” profession and, a lot of people still believe that Artificial Intelligence can replace the craft of translation.

The AI trend in the translation context was never shocking to the public as we see now that it is threatening the creative world with art, books and images being generated by AI and authors, actors, and artists in general rising to the moment and speaking out.

As the general understanding of the translator craft does not consider it artistic, the several translating machines available in sites, applications and such, are celebrated by the same people that are now appalled that images, books and videos are being “created” by AI.

The work of human translators is the source of all the Machine Translation available, without none of us ever having consented to our work being used to feed a database. It happened and nobody noticed (or cared, actually) as they are noticing now regarding other fields.

Somehow, this never really worried me professionally. At first, it was a real joke, the results of machine translation would sometimes be funny and treated as such. We have seen the quality of machine translation improving over the years, of course. I can understand that it can be an important resource, in emergency situations where language is a barrier, for instance, but I never saw it as something that can replace the need of a human translator. A 100% machine translated book will not be readable, believe me. A 100% machine translated site or marketing material will not look professional.

There are nuances and dynamics of the language that a machine will never “learn”, as language is organic, changes over time, and everything depends on context, situation and logic that are not binary and cannot be treated efficiently by a database. In a text that was translated by AI, we can see hilarious, if not tragic, mistranslations that could cause serious issues for a company or take away the pleasure of reading.

Also, there is one additional problem. The wrong translations and false cognates when used in a document, book or site will be fed back to translation databases and the result is that the more you use purely AI for translation, the worse your database will be. Eventually, it may become useless.

Recently, authors worried and spoke out about databases found on the internet with their work feeding them, and I think there are some similarities with the process. The creation of a history is not mechanical, the books cannot be simply copied and pasted, as that would be plagiarism and the sum of different plots, writing styles and humour will not result in a good outcome, therefore, it will never “compete” with real art.

The result of the recent uproar about AI is that I feel less alone and slightly more understood, although I still see people dismissing a translators work and still believing it is something that AI can replace, at least the topic is being discussed regarding how far can we go with AI and I am sure this will benefit translators also, so I believe it is an important moment with all this visibility of the problem.